terça-feira, 31 de maio de 2011

31 de maio, Nossa Senhora da Visitação

     A Santa Igreja encerra o mês de maio, dedicado particularmente à devoção a Nossa Senhora, com a Festa da Visitação da Virgem Maria à sua prima Santa Isabel. Esta festa ocorria anteriormente no dia 2 de julho.
     Os Evangelhos narram que Maria viajou para a casa da família de Zacarias logo após a anunciação do Anjo, que lhe dissera "vossa prima Isabel, também conceberá um filho em sua idade avançada. E este é agora o sexto mês dela, que foi dita estéril; nada é impossível para Deus". (Lc 1, 26, 37).
     A puríssima Virgem foi levar sua ajuda e apoio à sua prima, mãe do precursor do Salvador. O encontro dessas duas Mães resultou na oração da Ave-Maria e o cântico do "Magnificat", rezados e entoados por toda a Cristandade ao longo de dois milênios.
     Em 1441, o Papa Urbano VI instituiu esta festa com a finalidade de obter a intercessão de Nossa Senhora para recuperar a paz e a união do clero dividido pelo grande cisma do Ocidente. Mas a referência mais antiga da invocação de Nossa Senhora da Visitação pertence à Ordem franciscana, que a festejava desde 1263 na Itália.
     Desde 1412, Nossa Senhora da Visitação também é festejada pelos italianos da Sicília, como padroeira da cidade de Enna.
     Finalmente, no Sínodo de Basiléia, esta veneração foi confirmada para todo o orbe católico, pois nem todas as nações a celebravam.
     O Rei D. Manuel I, o Venturoso, que governou Portugal de 1495 a 1521, escolheu Nossa Senhora da Visitação para padroeira da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, e de todas do reino. Assim, os portugueses sempre celebraram esta festa com muita pompa.
     E foram os portugueses que trouxeram este culto para o Brasil, primeiro na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e em seguida a todo o território brasileiro.
     Naquele tempo, os fieis faziam uma procissão até os Hospitais da Misericórdia para levar conforto aos enfermos e doações às instituições. Atualmente, as paróquias enviam as doações recolhidas para as Casas de Saúde mais deficitárias.
     Festejar esta festa é uma forma de perpetuar a iniciativa de Maria Santíssima ao visitar sua santa prima, demonstrando como os católicos devem agir movidos pela caridade cristã: levar a amizade, a ajuda aos que mais precisam e sobretudo as palavras de fé e de confiança na Providência Divina, tão necessárias nos momentos de dificuldades.
     Neste dia, também, muitas paróquias e escolas católicas perpetuam a devoção já secular da Coroação de Maria.
     Quem não se recorda de na sua infância ter assistido essas demonstrações de afeto e veneração pela Mãe de Deus? Aquelas festas ficavam para sempre gravadas em nossa memória, incentivando uma devoção sempre maior a Nossa Senhora.
     Se as rainhas da terra são coroadas em meio a grandes festas, demonstrações de júbilo e de dedicação de seus súditos, com quão mais razão estas celebrações devem ser dirigidas a Maria Santíssima, Mãe de Nosso Senhor, que é o modelo perfeito de todas as virtudes, é nossa Advogada, Intercessora e Co-redentora.
     Que Maria Santíssima receba toda nossa veneração e dedicação neste encerramento de seu mês e nos prepare para os grandes acontecimentos que ainda virão!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Santa Joana d'Arc, a Donzela de Orleans - Festejada 30 de maio

     A 30 de maio de 1431, véspera de Corpus Christi, uma jovem era conduzida para a Praça do Mercado Velho, em Rouen. Amarraram-na ao alto da pilha de lenha, onde o fogo deveria ser ateado. Pendia-lhe da cabeça um papel com a inscrição "herética, relapsa, apóstata e idólatra".
     Numerosa multidão cercava a praça. Seiscentos soldados ingleses montavam a guarda. Chegada ao local da execução, ela pediu uma cruz. Um soldado inglês quebrou a haste da lança em duas partes, amarrou-as em forma de cruz e entregou-lha. De posse do precioso emblema, foi amarrada ao poste. Então, a jovem clamou alto por São Miguel. O algoz chegou o facho à lenha molhada com azeite e o fogo alastrou-se com fúria, de baixo para cima.
     Assim que as labaredas a envolveram, a jovem bradou com força, para reafirmar fidelidade à sua missão: "Não me enganei, as vozes eram do céu". Enquanto as chamas devoravam seu corpo, reafirmou que agira "por ordem de Deus". Por fim, o grito prolongado enquanto inclinava a cabeça e rendia sua alma à Deus: "Jesus!".
     Em poucos minutos tudo terminara. As cinzas da fogueira foram varridas para as águas do Sena. Até o coração da donzela, que as chamas haviam poupado, foi lançado ao rio. A donzela não tinha completado 20 anos!
* * *
     A Igreja vivia então a profunda crise do grande Cisma do Ocidente, que durou quase 40 anos. Quando Catarina de Siena faleceu, em 1380, havia um Papa e um antipapa; quando Joana nasceu, em 1412, havia um Papa e dois antipapas. Ao mesmo tempo em que havia tal laceração no interior da Igreja – quem sabe como consequência desta situação aflitiva em que as almas deviam se sentir perplexas e sem rumo – se davam contínuas guerras fratricidas entre os povos cristãos da Europa, das quais a mais dramática foi a Guerra dos cem anos entre a França e a Inglaterra.
     Deus suscitou esta donzela confiando-lhe um encargo pouco comum: transformada em guerreira, deveria salvar a França! Ela atravessou o território inimigo para ir à Chinon, onde se encontra com o delfim. Convenceu-o da missão recebida através das vozes que ouvia. Ela declarou: "Nasci para isto!". Em apenas oito dias (de 1 a 8 de maio de 1429) a pastora libertou Orleans, alcançou sobre os exércitos ingleses a fulminante vitória de Patay e conduziu o delfim Carlos a Reims para ser coroado rei a 17 de julho de 1429.
     Esta santa francesa bem como Santa Catarina de Sena, padroeira da Itália e da Europa, são talvez as figuras mais emblemáticas das “mulheres fortes” do final da Idade Média. São duas jovens do povo, leigas e consagradas na virgindade; não vivem no claustro, mas no meio das realidades dramáticas da Igreja e do mundo da sua época.
     Joana d'Arc nasceu em Domrémy, Champagne, em 1412. O pai de Joana, Jaques d’Arc, era um camponês e Joana nunca aprendeu a ler ou a escrever.
     Ela teve a sua primeira experiência mística aos 13 ou 14 anos: ouviu uma voz acompanhada de uma luz que a chamava. Ela recebeu as visões quando cuidava das ovelhas do seu pai. Visões posteriores eram compostas de mais vozes e ela foi capaz de identificar as vozes como sendo de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida.
     Em 1428 suas mensagens tinham um fim específico: se apresentar a Robert Baudricourt, Senhor de Vaucouleurs, que comandava o exército do delfim Carlos na região. Baudricourt duvidou dela, mas quando chegaram as notícias de sérias derrotas nas batalhas de Herrings, do lado de fora de Orleans, em fevereiro de 1429, exatamente conforme Joana havia predito, modificou sua posição.
     Ele enviou Joana com uma escolta para falar com o delfim Carlos; ela escolheu viajar com roupas de homem para sua própria proteção. Em Chinon, o delfim Carlos se disfarçara, mas ela o identificou no meio dos cortesãos, e o convenceu a acreditar na origem divina das suas visões e da sua missão.
     Ela pediu uma tropa de soldados para ir a Orleans. O seu pedido foi muito questionado na corte e ela foi enviada a Poitiers para ser examinada por um grupo de teólogos. Após um exame de três semanas, os teólogos aconselharam o delfim Carlos a atender os pedidos de Joana. Foi-lhe então dada a tropa e um estandarte especial feito para ela, com a inscrição "Jesus - Maria" e o símbolo da Santíssima Trindade, no qual dois anjos apresentavam a ela uma flor de lis. Joana vestia uma armadura branca.
     Sua tropa entrou em Orleans em 29 de abril. Sua presença revigorou Orleans, e em 8 de maio as forças inglesas que cercavam a cidade foram capturadas. Seguiu-se a sagração de Carlos VII, da qual Joana participou com sua armadura, sua espada e seu estandarte.
     No auge de suas vitórias, Joana foi procurada certa ocasião por seus conterrâneos que lhe perguntaram de onde ela tirava tanta coragem. Ela respondeu: "Só temo a traição". O primeiro grande traidor foi o próprio Rei Carlos VII, que se deixou vencer pela inércia e abandonou a heroína à sua própria sorte na tentativa de reconquistar Paris, bem como em suas outras escaramuças com os inimigos.
     Daí em diante sem suporte e sem a presença do rei, Joana sofreu várias derrotas. O ataque a Paris falhou e ela foi ferida na coxa. Durante a trégua de inverno, Joana ficou na corte onde ela continuava sendo vista com ceticismo.
     Quando as hostilidades recomeçaram, ela foi para Compiègne onde os franceses estavam resistindo ao cerco dos Borguinhões. A ponte movediça foi fechada muito cedo: Joana e suas troas ficaram do lado de fora. Ela foi capturada e levada ao Duque de Burgundy em 24 de maio, ficando prisioneira até o fim do outono. Carlos VII não fez nenhum esforço para libertá-la.
     Ela havia previsto que o castelo seria entregue aos ingleses e assim aconteceu. Ela foi vendida aos líderes ingleses na negociação. Os ingleses estavam determinados a ficarem livres do poder que Joana exercia sobre os soldados franceses. Como os ingleses estavam em guerra, não podiam executá-la. Eles então imaginaram uma maneira de julgá-la como herege.
     Em 21 de fevereiro de 1431, Joana compareceu diante de um tribunal liderado por Pière Cauchon, bispo de Beauvais. Este bispo francês fora expulso de sua diocese na marcha triunfal da Donzela e alimentava um ódio indizível contra ela. Além disso, esperava tornar-se Arcebispo de Rouen com a ajuda dos ingleses.
     Ela foi interrogada sobre as vozes, sua fé e sua vestimenta masculina. Sessenta juízes, clérigos e advogados, todos pagos pelo governo inglês, reuniram-se em Rouen. Um dos juízes, Houppeville, que protestou de início contra o processo, porque apenas inimigos da Donzela iam julgá-la, foi lançado no cárcere. Outro juiz, que pediu um defensor para Joana d'Arc, fugiu apressadamente da cidade quando os ingleses queimaram uma mulher só porque era favorável à Donzela.
     Apesar de todas as irregularidades, a Donzela lançou por terra todas as argúcias dos juizes durante o processo. Às perguntas capciosas ela dava respostas cheias de sabedoria.
     Quando lhe perguntaram: "Credes que estais na graça de Deus?" Se dissesse que não, confirmaria que suas revelações não eram do Céu; se dissesse que sim, estaria expressando uma heresia. Ela respondeu simplesmente: "Se não estou, que Deus me coloque; e se estou, que Deus me conserve". E acrescentou: "Eu seria a pessoa mais amargurada do mundo se soubesse que não estou na graça de Deus".
     Quanto a questões relativas ao segredo que ela compartilhava com Carlos VII, ela disse: "Durante três semanas, em Chinon e Poitiers, fui examinada por pessoas da Igreja. Enviai alguém a Poitiers para procurar os documentos do processo". Cada vez que ela mencionava esse episódio, os juizes mudavam de assunto, pois o fato de a santa ter sido examinada e justificada pelo tribunal de Poitiers incomodava enormemente a corte de Rouen.
     Em outra ocasião, propuseram à Donzela um conselheiro. Ela respondeu: "Em relação ao conselheiro que vós me ofereceis, eu vos agradeço, mas eu não tenho a intenção de me afastar do conselho de Nosso Senhor".
     Ao lhe perguntarem se Deus detestava os ingleses, a santa observou: "Quanto ao amor ou ódio que Deus sente pelos ingleses, nada sei. Mas o que bem sei é que eles serão expulsos da França, exceto os que aqui morrerem".
     "Quereis vos submeter à nossa Santa Madre Igreja por tudo o que fizestes, quer de bem ou de mal?", perguntaram-lhe os juizes. Santa Joana d'Arc respondeu: "Quanto à Igreja eu a amo, e quereria sustentá-la com todas as minhas forças".
     Por três meses de prolongou o interrogatório. Os ingleses temendo que a santa morresse devido aos maus tratos, apressaram o julgamento. Cauchon condenou-a a morrer na fogueira.
     O testemunho dado por ela na hora da morte, dizendo: "Não me enganei, as vozes eram do céu", era um supremo lance de heroísmo. Ele valia mais do que a entrada triunfal em Reims, ao lado do rei que ia ser coroado, a entrada triunfal heróica em Orleans, ou tudo o mais. Ela lançava em face de seus algozes que não morria como herética, mas como vítima do ódio de seus inimigos.
     Aquele tribunal irregular não era verdadeiro representante da Igreja, essa mesma Igreja que haveria de proceder à reabilitação de Joana d'Arc e elevá-la aos altares. Em 1456, sua mãe e dois irmãos apelaram para a reabertura do caso, com o que o Papa Calisto III concordou. O julgamento e o veredicto foram anulados.
     A França encontrou sua identidade, venceu os opositores, graças à ação da Donzela. Após sua morte, a França recuperaria sua identidade; ela despertara na alma dos franceses o ideal que fizera da França a filha primogênita da Igreja. E quão providencial foi sua missão! Caso a França ficasse sob a tutela da Inglaterra, que no século seguinte se rebelaria contra a Igreja Católica, correria o risco de resvalar também para a heresia.
     Popularmente venerada por séculos, Santa Joana d'Arc foi finalmente beatificada em 1909, e canonizada em 1920 como virgem e mártir. Ela ficou conhecida como La Pucelle d'Orleans, a Virgem de Orleans, e foi declarada oficialmente padroeira da França em 1922.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mme. Elisabeth, o Anjo da Corte, a Princesa Esquecida

(* 3 maio, 1764 – † 10 maio, 1794)

     A Revolução Francesa foi uma terrível cicatriz na face da Cristandade. Numerosos relatos contam com brilho a vida das pessoas envolvidas: o Rei e a Rainha da França, os revolucionários, os pobres e o grande corpo da nobreza que sucumbiu na guilhotina. Deixando-os por um momento à parte, vamos descobrir no ponto bem central da tragédia caótica a existência de um anjo – um anjo humano criado do mais nobre sangue na França: Madame Elisabeth, a Princesa real.
     Elisabeth Filipina Maria Helena de França, nascida a 3 de maio de 1764, era a filha mais nova do Delfim de França, e neta de Luis XV. Seu pai, o Delfim Luis Ferdinando morreu inesperadamente antes que ela fizesse um ano de vida, e sua mãe, Maria Josefa de Saxe, faleceu um ano depois. Ela, sua irmã mais velha, Clotilde, e seus três irmãos – o novo Delfim (futuro Luís XVI), o Conde de Provença, e o Conde de Artois – ficaram órfãos.
     As irmãs reais foram entregues aos cuidados da Condessa de Marsan, e esta boa dama dedicou longos anos à sua formação. A Princesa Elisabeth, diferentemente de sua dócil irmã, precisava de uma influência forte sobre ela, e por isso em 1770 uma nova governanta, a Baronesa de Mackau, foi nomeada para ajudar a excelente, mas idosa Madame de Marsan.
     A Baronesa era uma mulher de alta virtude e grande bondade, e Elisabeth logo ficou encantada com ela. A nova governanta educou as princesas como se elas fossem suas filhas. Ela focalizou especialmente a pequena Elisabeth, que era conhecida por tremer de raiva diante da menor provocação.
     Mas, a maior influência na vida de Elisabeth foi a religião. Foi a sua Primeira Comunhão que a modificou completamente.
O Anjo
     Conforme os anos iam passando, a princesa crescia em piedade e charme. Ela não era exatamente bonita, mas sua frescura e alegria emprestavam a ela um tipo de beleza vibrante que falta a muitas beldades. Seu charme principal, entretanto, era seu devotamento infatigável e caloroso a todos aqueles que a rodeavam na vida diária. Para seu irmão, o Rei, ela professava uma afeição ilimitada, embora sua fraqueza a angustiasse. Ela o envolvia com seu devotamento, pairando sobre ele como um anjo guardião. Quando príncipes reais de paises estrangeiros pediram-na em casamento, ela recusou, preferindo ficar a seu lado.
     Quando ela atingiu uma certa idade, o protocolo da corte exigiu mais dela. No silêncio de sua alma, um protocolo diferente e mais forte a chamava, um chamado misterioso para a solidão e a oração. Ela passou a freqüentar mais o Convento de São Dionísio, onde sua tia era abadessa.
     Seu irmão, cada vez mais preocupado com o aumento da freqüência dessas visitas, afetuosamente disse a ela: "Nada me agrada mais do que vê-la visitando sua tia, mas não a imite. Elisabeth, eu preciso de você comigo". Ela já havia pressentido a sombra agourenta ameaçando a corte de seu irmão e sem dúvida isto fê-la apoiar o Rei mais do que inclinações pessoais.
     Numa carta de uma pessoa amiga, seu sacrifício foi definido sucintamente: "Há vidas de abnegação tão valiosas quanto vocações monásticas; ações que superam o silêncio prescrito; obras de serviços aos outros que excedem as austeridades conventuais".
     Seu devotamento à família real nunca vacilou: até sua morte a energia no serviço de todos provaria isto incessantemente. Quantos relatos foram deixados para a História que nos falam de seu desprendimento, suas boas obras, seus conselhos sábios, sua assistência bondosa onde quer que ela notasse sofrimento e angústia.
     O Rei deu a ela uma propriedade, Montreuil, onde ela passava muitas horas, recebia algumas amigas e se dedicava às obras de caridade. Ela mantinha ali um estábulo com vacas que forneciam leite para os órfãos da vizinhança.
     Contudo, suas boas obras somente refletiam sua espiritualidade profunda. Elisabeth atingia realidades sublimes com a facilidade da alma plena de amor. Em uma carta a uma amiga muito querida cuja mãe estava morrendo, sua pena ecoa o cântico de seu próprio coração: "Eu tenho vivido totalmente para Deus; eu me apresentei a Ele com muitas infidelidades, mas com muito amor e com um grande desejo de possuir a alegria reservada para aqueles que O serviram".
    A Providência a preparou continuamente para a tragédia que viria.
A Revolução
     A tempestade caiu sobre a França. As negras maquinações da Revolução atingiram não apenas as pessoas da realeza, mas todas as formas de nobreza. Em meados de agosto de 1792, a família real foi aprisionada na Torre do Templo, onde ficou até sua morte. O que foi relatado sobre a infeliz família real durante aquele período deveria ter causado indignação em todas as cortes da Europa. Enquanto eles esperavam sentados, uma das piores conspirações da História ameaçava a França e seu trono.
     Madame Elisabeth recusou todas as propostas para fugir apresentadas por outros membros de sua família, a fim de ficar com seu irmão, e foi aprisionada com o Rei e sua família. Os poucos serviçais que puderam acompanhá-los foram diminuindo gradualmente. Com calculada intenção, algumas das criaturas mais vis da França foram designadas para vigiar os prisioneiros reais, causando-lhes humilhações e tormentos indizíveis.
     A 21 de janeiro de 1793, o Rei foi guilhotinado, seguido pela Rainha Maria Antonieta em 2 de agosto. O Delfim, uma criança de oito anos, foi separado do resto da família, provavelmente morrendo de maus tratos e abuso.
     Após a morte da Rainha, somente Madame Elisabeth e sua sobrinha de quinze anos, filha da Rainha, sobreviveram. Elas passaram o inverno e os vinte e dois meses seguintes num isolamento terrível, sendo seu único conforto a amorosa companhia que uma dava a outra. Madame Elisabeth com toda bondade distraia a jovem princesa no seu infortúnio e sofrimento. As memórias da princesa fornecem muito do que é conhecido da tragédia da família real, além de preciosas informações sobre o caráter e a piedade de Madame Elisabeth durante sua prisão.
Seu calvário
     No meio da noite do dia 9 de maio de 1794, as princesas foram súbita e rudemente acordadas por seus carcereiros. Disseram para Madame Elisabeth se vestir rapidamente e para acompanhar os guardas. Sendo avisada de que não retornaria mais para a prisão da torre, Elisabeth abraçou e beijou a sobrinha, dizendo para ela ficar calma. "Os guardas acumularam-na de insultos e palavras vulgares", narra a princesa. "Ela suportou tudo isto com paciência, pegou sua touca, beijou-me novamente, e disse-me para ter coragem e firmeza, para confiar sempre em Deus. Ela então foi embora".
     A Princesa não tinha dúvidas para onde a levavam. Naquela hora tardia, ela foi levada para a Conciergerie, o antigo palácio real transformado em lutuosa prisão. Ela então compareceu diante do tribunal revolucionário e foi "julgada" com outros vinte e três membros da nobreza. Os vinte e quatro prisioneiros foram condenados. Isto significava morte em 24 horas, após um período de torturas psicológicas. Eles foram deixados sozinhos no corredor onde os prisioneiros passavam sua última noite.
     Elisabeth foi então chamada a praticar um último ato de amor. Com inexprimível ternura e calma ela começou a dirigir-se aos seus companheiros diminuindo seus medos, consolando sua agonia pela transparência de sua serenidade. A branca silhueta da Princesa foi vista assim, passar a última noite de sua vida indo de um em um secando lágrimas, encorajando os medrosos, lançando sementes de esperança nos desesperados, elevando todos os corações para uma realidade superior: o Paraíso!
     Nos primeiros raios da aurora, as mulheres foram preparadas para terem seus cabelos cortados. As portas da prisão se abriram e as vítimas foram colocadas nas carroças. Os condenados partiram da Conciergerie às 16 horas. Eles se dirigiram para a Praça Luis XV.
     Todos estavam de pé, somente Madame Elisabeth estava sentada. Mas, na altura da Rua du Coq, apressaram os cavalos e ela então se levantou. Subitamente as carroças penetram na praça e os prisioneiros se viram diante do infame instrumento de morte, a guilhotina. A Princesa foi a primeira a descer. O carrasco ofereceu sua mão, mas ela olha para outro lado, não precisando de ajuda.
     Uma após a outra as vítimas sobem o cadafalso, e cada qual, antes de ir, faz um último ato de respeito à irmã de seu Rei morto. De acordo com as ordens, Madame Elisabeth deveria ser a última executada, numa cruel esperança de que o horrível ritual que acontecia diante de seus olhos quebrasse sua coragem. Mas, eles foram desapontados até o fim! Ela ficou de pé no meio dos guardas, enquanto seus companheiros eram supliciados.
     Madame Elisabeth recitou o De Profundis. Ela rezava, o rosto voltado para a guilhotina, mas nenhum barulho a fazia erguer os olhos. Quando chegou a vez de Madame Elisabeth, ela subiu os degraus com passos lentos; ela tremia ligeiramente, sua cabeça estava inclinada sobre o peito.
     No momento em que ela chegou diante do cadafalso, um dos ajudantes tirou o xale que cobria seus ombros, deixando à mostra uma medalha de prata da Imaculada Conceição. Ela fez um movimento e gritou pudicamente: "Senhor, em nome de vossa mãe, cobri meus ombros!" Tocado por seu apelo, o homem silenciosamente a atendeu. Quase em seguida ela foi fechada sobre a prancha, a lâmina caiu e sua cabeça tombou.
     Os tambores tocavam num ensurdecedor crescendo, saudando a morte de cada condenado e incitando o povo presente a gritar o costumeiro "longa vida à República". Mas, desta vez o silêncio era profundo. Nenhuma palavra foi ouvida em toda a praça quando a lâmina caiu.
     O capitão, que deveria dar o sinal, tombou desmaiado (ele vira e admirara Madame Elisabeth no Templo). Levaram-no paralisado, moribundo. Um silêncio impressionante pairou sobre a multidão estupefata. E todos os primeiros biógrafos da Princesa repetiam que um penetrante perfume de rosa se espalhou por toda praça.
     O corpo ensangüentado de Madame Elisabeth, confundido com os das outras vítimas, foi levado para um terreno reservado aos supliciados da Revolução, chamado "o recinto de Cristo", e espalharam cal viva sobre seu corpo, como haviam feito com o Rei e a Rainha. Apesar de todas as buscas, jamais se pode identificá-lo.
     O "anjo da corte" abandonou esta Terra para voar para a corte celeste. "Sua glória tão pura, disseram, está por toda parte e seu túmulo em nenhum lugar". Mas, seu nome certamente está gravado no livro eterno dos grandes vencedores.
Trad. e adap. de art. de Virginia Carmeli, publ. em CRUSADE de maio-junho 1996.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santa Mariana de Jesus, a "Açucena de Quito" - Festejada 26 de maio

     Como resultado do zelo apostólico dos primeiros colonizadores de nosso continente, a Divina Providência suscitou em várias regiões almas ardentes que consagraram suas vidas à salvação das almas entre os indígenas que deixaram as trevas do paganismo e da barbárie para entrar nas hostes benditas da Santa Igreja, ou nos ambientes sociais que iam sendo criados nas colônias da Espanha e de Portugal.
     O apostolado na incipiente sociedade dos primeiros séculos não foi menos árduo do que aquele levado a efeito entre os nativos. Nesse apostolado brilhou a alma extraordinária de Santa Mariana de Jesus Paredes y Flores.
     Muitos brasileiros conhecem Santa Rosa de Lima, a Padroeira da América Latina, santa peruana que também viveu na época da colonização espanhola, mas Santa Mariana de Jesus é quase desconhecida entre nossos compatriotas.
     Que as ações virtuosas praticadas por esta Santa sirvam de estímulo e exemplo a ser imitado, de acordo com as sábias adaptações que cada qual deve fazer, seguindo sempre a Santa Vontade de Deus.
     Mariana de Jesus Paredes y Flores, nasceu em Quito (Equador) em 31 de outubro de 1618; era filha do capitão espanhol Jerônimo de Paredes y Flores e da nobre Mariana Jaramillo. Antes dos sete anos ficou órfã e uma de suas sete irmãs, Jerônima, esposa do capitão Cosme de Miranda, passou a encarregar-se de sua educação.
     Logo começou a cultivar uma intensa piedade e mortificação, e um enorme apreço pela pureza e pela caridade com os pobres. Aos sete anos convidava suas sobrinhas, que eram quase da mesma idade, para rezar o Rosário e fazer a Via Sacra.
     Aprendeu o catecismo tão bem, que aos oito anos de idade foi admitida a Primeira Comunhão (o que era uma exceção naquela época). O sacerdote que fez o exame de religião ficou admirado com a compreensão das verdades do catecismo que ela demonstrava ter.
     Ao ouvir um sermão sobre a grande quantidade de gente que ainda não recebera a mensagem da religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, se dispôs a ir com um grupo de companheirinhas evangelizar os pagãos. No caminho, encontraram pessoas que as levaram de volta para casa; as crianças não tinham se dado conta dos perigos que poderiam enfrentar.
     Em outra ocasião resolveu ir com outras meninas a uma montanha para viver como anacoretas dedicadas ao jejum e a oração. Felizmente um touro muito bravo as fez voltar correndo para a cidade.
     Seu cunhado então se deu conta dos grandes desejos de santidade e oração desta menina e procurou que uma comunidade religiosa a recebesse. Porém, as duas vezes que tentou entrar em convento contrariedades imprevistas a impediram de fazê-lo. Ela então se deu conta de que Deus a queria santificar permanecendo no mundo.
     Sob a direção do jesuíta Juan Camacho fez voto de virgindade perpétua. E sem ingressar em nenhuma Ordem religiosa se consagrou à oração e à penitência na sua própria casa. Ela se propôs cumprir aquele mandato de Jesus: "Quem deseja seguir-me, que negue a si mesmo".
     Em 6 de novembro de 1639 ingressou na Ordem Terceira de Penitência de São Francisco de Assis, a que mais se adequava ao seu espírito de renúncia.
     Mariana recebeu de Deus o dom do conselho e os conselhos que ela dava às pessoas lhes faziam um bem imenso. Ela também anunciava acontecimentos que aconteceriam no futuro, inclusive a data de sua morte. Era possuidora de um dom especial para paziguar contendores e para conseguir que as pessoas deixassem de pecar.
     Ela é chamada de “a Açucena de Quito” porque durante uma enfermidade lhe fizeram uma sangria e a jovem de serviço jogou o sangue que tinham tirado de Mariana em um vaso e nele nasceu uma açucena.
     Em 1645, um grande terremoto abalou a cidade de Quito e causou muitas mortes por uma epidemia terrível que se lhe seguiu. Um padre jesuíta num sermão disse: "Deus meu, eu Vos ofereço minha vida para que acabem os terremotos". Porem Mariana exclamou: "Não, Senhor, a vida deste sacerdote é necessária para salvar muitas almas. Eu entretanto não sou necessária. Eu Vos ofereço minha vida para que cessem esses terremotos".
     Naquela manhã mesmo ela começou a sentir-se mal e morreu no dia 26 de maio. Deus aceitou o seu oferecimento: os terremotos cessaram e as pessoas não mais morreram. Por isso, em 1946 o Congresso do Equador deu a ela o título de "Heroína da Pátria".
     Santa Mariana de Jesus foi beatificada pelo Beato Pio IX em 20 de novembro de 1853 e canonizada por Pio XII em 4 de junho de 1950.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Santa Humildade, Abadessa - Festejada 22 de maio

 
      A vida desta Santa é um encantador Fioretti. É uma amostra da ação benfazeja da Cristandade. Em todas as classes sociais floresciam almas de grande candura e inocência, e cuja fé alcançava graças e milagres que nos enlevam. Que esta Santa nos alcance a virtude que lhe dá o nome e um amor a Deus igual ao seu!

 

 

 
     Em 1226, em Faenza, Itália, nasceu Rosanese Negusanti. Os seus pais eram Elimonte e Riquelda Negusanti, ambos de origem nobre. O pai, no dia do batismo, confiou a pequena a São João Evangelista. Ela foi educada segundo os costumes das famílias mais nobres.
     Quanto adolescente, Rosanese convivia com outras mocinhas suas amigas e começou a recusar as roupas ricas e pomposas. Dedicava sempre mais tempo à oração e meditava sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os pais temiam que a filha os abandonasse para entrar em um mosteiro. Rosanese frequentemente ajudava os pobres; os empregados ficaram preocupados e avisaram o pai, mas este disse para eles deixarem-na fazer o bem.
     Quando Rosanese tinha apenas 15 anos o pai morreu e a mãe, para levar adiante a família, a fez desposar Ugolotto Caccianemici. Desta união nasceram dois filhos que entretanto morreram pouco depois do batismo. Esta grande dor ajudou Rosanese a entender que o seu sonho de se dedicar a Deus podia se concretizar.
     Quando o marido caiu vitima de uma grave doença, Rosanese tratou dele com grande caridade. Ele ficou milagrosamente curado e também compreendeu que a sua vida e a de sua esposa deviam ser dedicadas a Deus.
     Em 1250, com a idade de 24 anos, Rosanese entrou no convento de S. Perpétua em Faenza, e assim também fez o marido. Os dois não mais se veriam.  Rosanese e seu marido renunciaram a toda liberdade de jovens ricos e nobres, e, naquele tempo como hoje, isto era verdadeiramente difícil.
     Depois de entrar para o mosteiro, Rosanese foi muito severa consigo mesma e procurou fazer os trabalhos mais difíceis e humildes.  Era muito doce e era um prazer conversar com ela, por isso as irmãs a chamaram Irmã Humildade.
     Como era habitual, as monjas liam as Sagradas Escrituras ou a vida dos santos enquanto estavam â mesa para as refeições. Um dia as religiosas pediram que Humildade lesse. Embora nascida em uma família nobre, ela não sabia ler, porém aceitou humildemente o encargo e de sua boca saíram palavras maravilhosas que a todas enlevou.
     Uma monja lhe ensinou depois a ler e a escrever em latim, e ela começou a escrever os Sermões, que são reflexões profundas e meditações sobre a Encarnação, Redenção de Cristo, sobre a Virgem Maria e S. João Evangelista. Amiúde Humildade é retratada com uma pomba próxima à sua orelha, como símbolo da voz inspiradora de Deus.
     Uma noite, enquanto dormia, uma voz familiar a despertou e disse: "Levanta-te Irmã Humildade e me segue". Ela se vestiu rapidamente, tomou o livro de orações e surpreendentemente se encontrou sobre o muro que circunda o mosteiro.  A voz a conduziu ao mosteiro das Clarissas da Ilha de São Martinho, que se encontrava nos campos ao redor de Faenza, aonde a torrente do Marzeno conflui com o Rio Lamone.
     Na manhã seguinte, as portas de Santa Perpétua estavam fechadas, mas Humildade não foi encontrada. O prior, informado que a jovem se refugiara no outro mosteiro, a procurou e lhe perguntou como havia fugido. Humildade contou ter ultrapassado o muro: todos ficaram incrédulos e só se deram conta do milagre quando encontraram o livro de salmos sobre o muro do convento.
     Humildade pode então realizar o seu desejo de viver sozinha e completamente dedicada a oração. Para seu uso foi construída uma celazinha perto da Igreja de S. Apolinário, pertencente aos Beneditinos Vallombrosanos de S. João Gualberto († 1073), em Faenza, de onde lhe era possível seguir a Santa Missa.
     Ela permaneceu ali por doze anos, durante os quais levou uma vida de eremita alimentando-se de pão, água e ervas amargas, fazendo muitas penitências severas e jejuando. Quando alguém tinha necessidade de ajuda, podia aproximar-se de sua celazinha para obter conselhos através de uma janelinha, que era o meio de comunicação dela com o exterior.      
     Um dia, uma doninha com um guizo no pescoço entrou na cela de Humildade e passou a lhe fazer companhia nos seus anos de oração e penitência. Às vezes vemos o animalzinho representado ao pé da Santa.
     A fama de Humildade crescia entre as pessoas. Muitas jovens decidem seguir seu exemplo e para tanto pedem a construção de outras celas junto à sua. Os monges de São Apolinário perceberam que a construção de um excessivo número de celas impediria o livre acesso ao mosteiro e a igreja, e pedirem ao bispo que resolvesse o problema.
     E assim, em 1266, foi fundado o Mosteiro da Malta, com a aquiescência do bispo e dos monges, a primeira comunidade de monjas, da qual Humildade foi abadessa, e que dirigiria até 1281. Humildade dirigia sua comunidade de treze religiosas com serenidade. Entre elas a Irmã Margarida lhe era muito próxima.
     Quinze anos se passaram. Um dia Humildade ouviu a voz de São João Evangelista que lhe pedia para dirigir-se a Florença para fundar ali um novo mosteiro. Não fazendo seu protetor repetir o pedido, partiu logo, deixando o mosteiro de Faenza aos cuidados de uma das irmãs. Não foi uma viagem fácil: 100 km a pé e no dorso de um jumento entre os incômodos do Apeninos.
     O abade geral de Vallombrosa comunicou oficialmente a Humildade a sua aprovação, e ela fundou o Mosteiro de São João Evangelista. No dia 14 de março de 1282, o Bispo de Fiesole abençoou a primeira pedra da igreja.
     Certo dia, quando Humildade recolhia pedras nas proximidades da torrente Mugnone, duas mulheres entraram na cidade: uma delas levava uma criança em seus braços, a qual parecia muito doente, precisa muito de atendimento médico. De repente, o pequeno morre. As mulheres choram. Humildade, vendo o pequeno morto, recordou-se de seus dois filhinhos. Tomou a criança nos braços e a colocou aos pés do quadro de e S. João Evangelista. Imediatamente o pequeno acordou do sono profundo da morte.     
     Em um mês de agosto muito quente, Humildade estava acamada, com uma febre altíssima. Desejou portanto um pouco de gelo, mas naquela estação era impossível  encontrá-lo. Pediu às irmãs de retirá-lo do poço. As irmãs obedeceram, embora pensassem que seu pedido era fruto da febre alta...  Quando puxaram o balde, ele estava cheio de gelo!
     Em 13 de dezembro de 1309, uma grave doença lhe tolheu a palavra e a imobilizou para sempre. Margarida assumiu o posto de Humildade e foi encarregada de levar a bom termo os trabalhos do mosteiro. Faltava o pão tanto para as monjas como para os operários.  Novamente o milagre: o pão bastou para dez dias e o dinheiro crescia no caixa do convento.
     Santa Humildade morreu como Jesus, numa sexta-feira às três horas da tarde. Era o dia 22 de maio de 1310. A Santa tinha 86 anos.
     Também no dia de seu funeral continuaram a acontecer fatos. Havia um monge que há tempo não celebrava a Missa por causa de um braço completamente imobilizado. O monge tocou o corpo de Humildade e o seu braço recobrou força e vida.  Uma senhora chegou tarde ao funeral: a monja já estava sepultada.  A senhora, que sofria de uma grave doença, se ajoelhou junto ao túmulo. Quando se levantou estava completamente curada.
     Depois de sua morte, as monjas se dirigiam com freqüência ao túmulo de sua fundadora para rezar. Um dia viram óleo sobre a pedra do sepulcro. Pensavam fosse um engano de quem se ocupava da custódia e da limpeza do túmulo.  Mas o fenômeno continuou e não podia ser sempre culpa do sacristão!
     Quando completou um ano de sua morte, o Bispo de Florença mandou remover a lápide para procurar uma explicação para o fenômeno do óleo... e encontraram o corpo de Santa Humildade intacto!
     As monjas que continuaram sua obra permaneceram no Mosteiro da Malta até 1500. Mais tarde um novo mosteiro foi construído na Via Pascoli (onde ainda hoje é a Igreja de Santa Humildade, um belíssimo barroco faentino). Ali as monjas ficaram até 1883.
     Em 1888, se transferiram para Via Bondiolo, onde ainda se encontram, trabalhando em seu nome seja no mosteiro, seja na atividade apostólica na escola e no acolhimento. Na continuidade da tradição cultural beneditina, as monjas se dedicaram logo à educação e formação das jovens e podemos encontrar crônicas nos arquivos que documentam esta atividade desde 1400.


O Mosteiro atualmente

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Beata Antonia Mesina, Mártir da Pureza - Festejada 17 de maio


 
 
     Nos dias atuais temos muitas jovens enfrentando a concupiscência de homens sem temor de Deus, cegos de paixão insana, e que sofrem até a morte para defender a sua pureza. A defesa extrema da pureza atualmente faz alguns sorrirem, resultado de um relaxamento dos costumes e de uma liberdade sem freios entre muitos jovens. A pureza, entretanto, era um bem e uma virtude que todas as jovens católicas tinham como um dom natural a defender e preservar para um amor mais completo e abençoado no Sacramento do Matrimônio, ou como um dom a oferecer a Deus em uma vida consagrada.
     Em 1947, ao beatificar a jovem mártir da pureza Maria Goretti (1890-1902), o Papa Pio XII quis indicá-la às jovens como exemplo de defesa extrema e heróica da pureza, e a proclamou Santa em 1950, durante o Ano Santo. O reconhecimento oficial da Igreja desta forma de martírio – que se pode considerar, segundo a linguagem de hoje, como um estupro com um fim trágico devido à resistência da vítima – trás uma nova luz ao martírio: o conceito de defesa da pureza como dom de Deus e o rebelar-se consciente até a morte. São Domingos Sávio dizia: “Antes morrer do que pecar”.
     A algumas dessas vítimas, como a Beata Pierina Morosini (1931-1957) da província de Bergamo; a Beata Carolina Kozka (1898-1914) mártir da Polônia; a Serva de Deus Concetta Lombardo (1924-1948) da província de Catanzaro; a Beata Albertina Berkenbrock (1919-1931) a Maria Goretti brasileira, etc., vem se juntar a Beata Antonia Mesina.
 
     Antonia, segunda de dez filhos de Agostinho Mesina e de Graça Rubanu, nasceu a 21 de junho de 1919, em Orgosolo, na província de Nuoro. Foi batizada na paróquia de São Pedro, originária do século XIV, e, como era uso então, foi crismada a 10 de novembro de 1920, quando tinha menos de dois anos de idade. Aos sete anos fez a Primeira Comunhão.
     A família, de condição modesta, era sustentada pelo pai que era guarda campestre, o que já era alguma coisa na carente economia de Orgosolo, região das colinas da Barbagia (alt. 620m), ao norte dos montes do Gennargentu, com as suas características casinhas, e cujas principais fontes de renda dos habitantes eram o pastoreio e a exploração dos bosques circunstantes.
     Antonia Mesina se formou na escola da Juventude Feminina da Ação Católica e de 1929 a 1931 fez parte dela como ‘benjamina’, e de 1934 a 1935, como sócia efetiva. Era de uma piedade simples e fervorosa, generosa na dedicação à sua família, respeitosa e caridosa com todos.
     De caráter reservado, típico da personalidade das mulheres da sua região, evitou tudo aquilo que pudesse ofuscar o seu bom nome e a sua modéstia. Participou com espontaneidade dos eventos de Orgosolo: uma foto a retrata usando o belíssimo traje usado pelas senhoras nas tradicionais festas da Assunção (15 agosto) e de S. Ananias (primeiro domingo de junho).
     No dia 17 de maio de 1935, após ter assistido a Santa Missa na paróquia de São Pedro e ter recebido a Santa Comunhão, foi ao bosque dos arredores para recolher lenha, segundo o costume, para atender às necessidades da família. Acompanhava-a uma amiga, Ana Castangia.
     Encontrava-se na localidade “Obadduthal” quando um jovem da sua região a abordou tentando-a e convidando-a a cometer pecado, mas ela não aceita e resiste à sua paixão insana. O jovem, cego diante da recusa, a agride com violência, massacrando-a com golpes de pedra. Foram contadas 74 feridas.
     Assim morre Antonia Mesina, defendendo a sua pureza, com apenas 16 anos, impregnando aquela nobre e antiga terra da Barbagia com o seu sangue inocente, tornando-se uma flor a ser admirada pelo povo de Orgosolo, que participou em massa, no dia 19 de maio de 1935, dos solenes funerais.
     A 22 de setembro de 1978, a Santa Sé aprovou o início do processo para a sua canonização. O papa João Paulo II beatificou esta filha da Sardenha no dia 4 de outubro de 1987.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Santa Maria Domingas Mazzarello, Co-fundadora - Festejada 14 de maio

     Maria Domingas Mazzarello nasceu em 9 de maio de 1837 em Mornese, Acqui, Itália, filha de José e Madalena Mazzarello. Era filha de camponeses que ritmavam a vida pelo alternar das estações: pessoas honestas e sustentadas por uma fé profunda. Maria, a mais velha de 10 filhos, sete dos quais sobreviveram, aprendeu as lições de uma típica irmã mais velha.
     Membro da Pia União de Maria Imaculada, era assistente em sua paróquia: ensinava o catecismo para crianças e ajudava os doentes. Quase morreu de tifo com a idade de 23 anos, e embora sobrevivesse, ela nunca recuperou novamente a totalidade de suas forças.
    Com sua amiga Petronilha começou a trabalhar como costureira. Desejando trabalhar com as jovens, elas fundaram uma escola de corte e costura que logo se tornou uma escola normal. Todos os  domingo elas ofereciam às  jovens da cidade, estudantes ou não, uma oportunidade de virem à escola para jogos e orações.
     Em 1864, Dom Bosco visitou Mornese onde esperava encontrar uma escola para rapazes. Tomando conhecimento do trabalho de Petronilha e Maria Domingas com as jovens, muito parecido com o que ele fazia  com os rapazes, as incentivou a prosseguir com a obra.
     O Papa Pio IX havia sugerido a Dom Bosco a fundação de um instituto feminino que “fizesse pelas meninas o que os salesianos fazem em favor dos meninos”. O comentário do Papa foi logo complementado por um sonho em que ele via uma multidão de meninas junto à colina de Borgo Alto, que lhe pediam que se preocupasse também com sua educação. “Nós meninas não temos também uma alma a salvar, como têm os meninos?”, o recriminam. Então ele vê em sonho Maria Auxiliadora que lhe diz: “Te confio estas jovens; elas também são minhas filhas”. Anos mais tarde nesse lugar seria construída a primeira casa das Filhas de Maria Auxiliadora.
     Assim, sob orientação de Dom Bosco, Maria Domingas Mazzarello iniciou um trabalho que daria origem ao Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Em 1864 já  havia 15 irmãs recebendo o hábito. As irmãs  usaram o modelo de João Bosco para ensinar coragem, caridade e alegria.
     Em 1872, o Papa Pio IX deu a Dom Bosco autorização para fundar canonicamente a Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora. Em 1874 Maria Domingas foi eleita Superiora Geral das Filhas de Maria Auxiliadora, que ficou popularmente conhecida como  Irmãs Salesianas, com a casa matriz em Nizza, Monferrato.
     A Congregação cresceu rapidamente. Em 1876 ela enviou seis freiras para  fundar uma casa na Argentina para onde vários italianos haviam emigrado. Quando ela faleceu a Congregação já tinha 139 irmãs, 50 noviças em 27 casas, sendo 18 na Itália, 3 na França, 6 na América do Sul, cuidando de 5.000 jovens.
     Toda a vida de Santa Maria Domingas Mazzarello foi marcada por um estilo de relações simples, autênticas. Como educadora, teve coração de mãe, sabendo ser firme em relação aos princípios e valores universais. Foi realmente um ponto de referência estável, ao mesmo tempo acolhedor e compreensivo. Jamais lera um tratado de Pedagogia, mas sendo uma líder nata consolidou com sua capacidade e competência, aliadas a sua sede apostólica, um trabalho que ainda hoje é cheio de vida.
     Em 1881, Madre Mazzarello retornou de Marselha devido à doença. São João Bosco encontrou-se com ela e a confortou. Em 27 de abril ela recebeu os últimos sacramentos e disse: "Agora já assinei meu passaporte e estou pronta para ir". Ela faleceu logo depois, em 14 de maio em Nizza, Monferrato com apenas 44 anos.
          Seu corpo está em um lindo santuário ao lado de São João Bosco em Turim, Itália. Foi beatificada em 1938 pelo Papa Pio XI e canonizada em 24 de junho de 1951 pelo Papa Pio XII.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Beata Joana de Portugal, Princesa e Dominicana - Festejada 12 de maio

     Esta princesa faleceu quando as cortes européias eram grandes responsáveis pela expansão dos costumes renascentistas, enquanto dando prestígios aos intelectuais que lançavam as idéias da Renascença, aos juristas que plasmavam o Estado absolutista, e levando uma vida esplêndida, luxuosa, no meio das delícias, esquecidos do fim último de sua vocação de ser exemplo para as classes inferiores.
     Durante muito tempo esta princesa praticou a virtude da mortificação na própria corte, a ponto de tomar como emblema a coroa de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sua atitude entrava em choque com todas as tendências da época e repercutiu, nesse período já adiantado da Renascença, como uma espécie de reminiscência da Idade Média.
     Também dentro do convento o modo como ela praticava as virtudes religiosas era um agir contra, pois as religiosas viviam de um modo muito relaxado naquele tempo. Era uma época de grande decadência das ordens religiosas.
     Décadas depois, a grande Santa Teresa de Jesus contava como viviam as carmelitas no tempo dela: recebiam visitas o dia inteiro; tinham guitarras, alaúdes e cantavam no claustro canções muitas das quais eram cantigas profanas; por qualquer motivo eram autorizadas a passar temporadas enormes na casa da família, etc. Os conventos eram verdadeiros receptáculos de mundanismo.
     Esta Santa admirável é exemplo para todos os tempos de como devemos combater: de frente, com vigor e sem respeito humano.
* * *

     Após súplicas e orações prementes, pois ainda não havia herdeiro para o trono, nasceu Joana, a filha primogênita do rei D. Afonso V, décimo segundo rei de Portugal, e de sua esposa, Da. Isabel, no dia 6 de fevereiro de 1452, e foi jurada princesa herdeira do trono. Trocou esse título pelo de Infanta depois do nascimento de seu irmão, que foi o rei D. João II. Sua mãe faleceu quando Joana tinha apenas quatro anos.
     A augusta menina cresceu como flores de altar, educada com grande esmero pela Princesa Dona Beatriz de Meneses. De personalidade marcante, chegou a exercer temporariamente a regência do Reino.
     Enquanto viveu na corte, praticou as mais altas virtudes cristãs. Tomou como emblema uma coroa de espinhos e, debaixo de suas ricas vestes, ninguém suspeitava que usava um cilício. Jejuava a pão e água, especialmente às sextas-feiras.
     Profundamente compassiva, procurava o quanto podia amenizar as misérias de seu próximo. Encarregara uma pessoa virtuosa de distribuir suas esmolas. Anotara num livro os nomes dos necessitados, o grau de pobreza de cada um e o dia em que a esmola lhes devia ser dada. Na Quinta-feira Santa, lavava os pés de doze mulheres pobres; despedia-as depois de lhes dar roupas novas e dinheiro.
     Era tão formosa que, segundo afirma Frei Luís de Sousa, vieram pintores de outras nações para retratá-la. Muitos príncipes pediram-lhe a mão insistentemente, mas negou-a a todos. Joana aspirava ardentemente entrar para uma ordem religiosa, mas as dificuldades eram muitas. Teve que lutar contra as resistências de seu pai e de seu irmão, que preferiam que ela fizesse um casamento vantajoso.
     Em 1471, D. Afonso V tomou Arzila e ocupou Tanger, abandonada pelos mouros. Quando de seu retorno ao Reino, Joana, aproveitando o clima de euforia, disse-lhe que os monarcas da antiguidade costumavam oferecer sacrifícios aos deuses quando alcançavam qualquer vitória, que ele oferecesse também a Deus o sacrifício de sua única filha. D. Afonso não pode negar o que ela lhe pedia, consentindo que entrasse para um convento, apesar de os príncipes e as damas da corte acharem isto inconveniente.
     Encerrou-se no Mosteiro de Jesus, da Ordem de São Domingos, em Aveiro, onde sua humildade e obediência foram tão grandes, que ninguém podia dizer que ali estava uma filha de rei.  Levou sua humildade até o ponto de lavar roupa, amassar pão, varrer o convento. Aprendeu a fiar e a tecer. Do linho preparado por ela se faziam os corporais para a igreja.
     Em 1479, a peste assolou o país. Joana, obedecendo ao pai, rumou para o Alentejo, aonde a peste não chegara. Passados onze meses Joana voltou a Aveiro.
     Em 1481, faleceu D. Afonso, seu querido pai, a quem sucedeu seu irmão D. João II. Todos esses infortúnios a aproximavam cada vez mais de Deus; não havendo nada neste mundo que a prendesse, suspirava pelo céu.
     Trabalhou ainda esta princesa denodadamente pela conversão das almas, pois a preocupava muito a sorte dos pecadores. A sua obra predileta foi a redenção dos cativos da África. Sua breve vida foi um holocausto de amor e de sacrifício.
     Sua saúde começou a declinar em 1489, e em princípios de maio de 1490 reconheceu que sua morte estava próxima. Na madrugada do dia 12 de maio, a comunidade reuniu-se em torno de seu leito e rezou o Ofício da Agonia. À invocação Omnes Sancti Innocentes, orate pro ea, Joana abriu os olhos e ergueu-os para o Céu por um breve espaço de tempo; depois, expirou suavemente. Sua alma voou em companhia dos santos inocentes.
     Em seu túmulo ocorreram inúmeros milagres obtidos por sua intercessão; a memória de Joana foi sempre guardada em Aveiro.
     O Papa Inocêncio XII a beatificou, confirmando o seu culto, em 1693. D. Pedro II mandou construir um túmulo luxuoso depois da beatificação, para onde foram trasladados os seus santos despojos e onde ainda hoje se conservam.
     A 5 de janeiro de 1963, Paulo VI a declarou especial protetora da cidade de Aveiro.