sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Epifania do Senhor - Dia dos Santos Reis - 6 de janeiro

   

     A festa da adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus recebeu o nome de Epifania do Senhor. Epifania vem do grego: πιφάνεια que significa “aparição; fenômeno miraculoso; manifestação”. Este fato é narrado pelo evangelista São Mateus, no Capítulo 2, versículos 1-12. Trata-se de uma história impressionante, com vários símbolos importantes para a nossa vida. A festa se comemora no dia 6 de janeiro, ou seja, doze dias após o Natal, ou 2 domingos após o Natal, dependendo do calendário litúrgico usado.
     Andaram as gentes na tua luz e os reis no esplendor do teu nascimento”, profetizou Isaías (Is 60, 3). E São Tomás de Aquino explica: “Os Magos foram as primícias dos gentios que acreditaram em Cristo. E neles se manifestou, como um presságio, a fé e a devoção das gentes que vieram a Cristo das mais remotas regiões”.
     Santo Agostinho sublinha que eles procuraram com fé mais ardente Àquele que punham de manifesto o clarão da estrela e a autoridade das profecias.
     São João Crisóstomo completa dizendo: “Porque buscavam um Rei celeste, embora nada descobrissem nele denotador da excelência real, contudo, contentes com o só testemunho da estrela, adoraram-no”.
Eram reis?
     São Mateus chama-os apenas de “Magos”. Porém, esta palavra tinha vários significados. Designava a origem geográfica de pessoas da Pérsia. Por isso, deduzimos que os magos eram daquele país. Designava também pessoas da realeza. Por isso, acredita-se que eles eram reis. Por fim, “mago” significava também o que chamaríamos hoje de “cientistas”, pois eles conheciam profundamente a matemática, a medicina, a astronomia – tanto que detectaram o aparecimento de uma nova estrela – a química e outras ciências já conhecidas na época. Tudo isso concorda com a tradição científica dos persas.
Seguindo uma estrela
     O aparecimento de uma nova estrela no céu mudou a vida daqueles homens. O conhecimento científico permitiu que eles descobrissem o novo astro. Daí se deduz que eles eram conhecedores dos mapas celestes e bons viajantes. Naquele tempo, os viajantes do deserto viajavam à noite e guiavam-se pela posição das estrelas. Por isso, eles detectaram o aparecimento da nova estrela. Porém, não apenas detectaram: eles conheciam as profecias messiânicas e compreenderam que tal estrela anunciava o nascimento do Rei dos reis, o soberano das nações, o Salvador. Por isso se uniram para preparar e empreender viagem em busca do Rei Salvador.
     São Beda, uma das máximas autoridades dos primeiros tempos da Idade Média pelo fato de ter recolhido relatos transmitidos oralmente pelos Apóstolos aos seus sucessores, e destes aos seguintes, no tratado “Excerpta et Colletanea”, assim recolhe as tradições que chegaram até ele:
     “Melquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.
     É, pois, São Beda quem por primeira vez escreveu o nome dos três. Nomes com significados precisos que nos ajudam a compreender suas personalidades.
     Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”; e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”.
     Para São Beda – como para os demais Doutores da Igreja que falaram deles – os três representavam as três raças humanas existentes, em idades diferentes.
Surpresa em Israel
     Seguindo a estrela, aqueles sábios viajantes chegaram a Israel. Como procuravam por um rei, soberano das nações recém-nascido, dirigiram-se à capital Jerusalém, pensando que o Menino Deus seria descendente do então rei de Israel. A chegada desses homens na capital foi motivo de alarde e espanto, segundo o relato de São Mateus, pois o povo não sabia do nascimento do Messias, embora desejasse ardentemente este acontecimento. São Mateus diz que Jerusalém entrou em polvorosa com a chegada dos magos.
     Tal foi a importância da visita dos magos a Jerusalém, que foram recebidos pelo rei Herodes. Este, provavelmente, recebeu-os como chefes de Estado, com todas as honras. Ao saber, porém, o real motivo da visita, Herodes sente-se ameaçado. O Rei Salvador recém-nascido poderia roubar seu trono, pensou. Por isso, fingindo interesse, procurou saber sobre as profecias ouvindo os escribas e enviou os magos a Belém. E disse a eles que, depois de encontrarem o menino, voltassem para indicar o local onde ele estava, para que também Herodes pudesse ir adora-lo. Herodes, na verdade, sanguinário que era, queria matar o menino. Herodes, com efeito, já tinha cometido vários assassinatos, inclusive de dois filhos seus, por causa de seu medo de perder o poder. Embora tenha construído grandes obras em Jerusalém, Herodes, que não era judeu, mas sim nabateu e odiado pelos judeus, era um homem doente pelo poder, capaz de qualquer coisa para se manter na realeza.
O encontro com o Menino Jesus
     São Mateus diz que, tão logo os magos saíram de Jerusalém, avistaram novamente a estrela e encheram-se de alegria. Seguiram-na e ela os levou ao local onde Jesus estava. Chegando, depararam-se com a maior das surpresas: o Rei, soberano das nações, o Filho de Deus, nascera numa família pobre, simples. Não nasceu em berço de ouro, mas numa manjedoura! Sua mãe, uma jovem simples e seu pai, adotivo, um carpinteiro. Mesmo assim, os reis reconheceram naquele menino o soberano das nações, o Príncipe da Paz. Os magos, reconhecendo naquele Menino o Rei dos reis, ofereceram-lhe presentes. Também seus presentes têm um significado simbólico.
     Melquior deu ao Menino Jesus ouro, o que na Antiguidade queria dizer reconhecimento da realeza, pois era presente reservado aos reis.
     Gaspar ofereceu-Lhe incenso (ou olíbano), em reconhecimento da divindade. Este presente era reservado aos sacerdotes.
     Por fim, Baltasar fez um tributo de mirra, em reconhecimento da humanidade. Mas como a mirra é símbolo de sofrimento, veem-se nela preanunciadas as dores da Paixão redentora. A mirra era presente para um profeta. Era usada para embalsamar corpos e representava simbolicamente a imortalidade.
     Desta maneira, temos o Menino Jesus reconhecido como Rei, Deus e Profeta pelas figuras que encarnavam toda a humanidade.
A ciência se ajoelha diante de Deus
     A adoração dos Magos ao Menino Jesus tem um significado profundo. Sendo cientistas, eles representam a ciência que procura a Deus, encontra-o, reconhece-o e se ajoelha diante dele num gesto de humildade e adoração. Os Magos nos ensinam que a ciência e o conhecimento nos levam ao reconhecimento de Deus. Num mundo onde alguns cientistas procuram negar a Deus, outros, em grande número, seguem o exemplo dos Magos, reconhecem a Deus na criação e em tudo o que existe e o adoram como Deus, Pai e soberano do universo.
Fugindo de Herodes
     Depois da visita, os magos foram avisados em sonhos para não voltarem a Herodes. Reconhecendo nisso uma mensagem divina, eles obedeceram e voltaram por outro caminho. Ao descobrir que tinha sido enganado, Herodes, furioso, manda matar todos os meninos com menos de dois anos, nascidos em Belém. Ele queria ter certeza de que o Messias, visto por ele como rival, fosse morto.
Fuga para o Egito 
    José foi avisado também em sonho e partiu para o Egito, fugindo com a Sagrada Família da ira de Herodes. Assim, os meninos de Belém com menos de dois anos deram suas vidas para que Jesus sobrevivesse. Eles passaram a ser conhecidos como Santo Inocentes, o que, de fato, são.
     A Sagrada Família permaneceu no Egito até a morte de Herodes. Então, voltaram para Israel e foram viver em Nazaré, longe da capital Jerusalém.
Veneração
     A tradição cristã conservou a veneração aos três os reis magos. Até 474 os cristãos guardavam seus restos mortais em Constantinopla. Depois, foram levados para a grande catedral de Milão, Itália. Mais tarde, em 1164, foram trasladados para a bela cidade de Colônia, Alemanha. Lá, foi construída a esplendorosa Catedral dos Reis Magos, que guarda os restos mortais dos três reis santos até os dias de hoje.
Oração aos reis magos
     “Ó amabilíssimos Santos Reis, Baltazar, Melquior e Gaspar! Fostes vós avisados pelos Anjos do Senhor sobre a vinda ao mundo de Jesus, o Salvador, e guiados até o presépio de Belém de Judá, pela Divina Estrela do Céu. Ó amáveis Santos Reis, fostes vós os primeiros a terem a ventura de adorar, amar e beijar a Jesus Menino, e oferecer-lhe a vossa devoção e fé, incenso, ouro e mirra. Queremos, em nossa fraqueza, imitar-vos, seguindo a Estrela da Verdade. E descobrindo a Menino Jesus, para adorá-lo. Não podemos oferecer-lhe ouro, incenso e mirra, como fizestes. Mas queremos oferecer-lhe o nosso coração contrito e cheio de fé católica. Queremos oferecer-lhe a nossa vida, buscando vivermos unidos à sua Igreja. Esperamos alcançar de vós a intercessão para receber de Deus a graça que tanto necessitamos.
     (Em silêncio fazer o pedido)
     Esperamos, igualmente, alcançarmos a graça de sermos verdadeiros cristãos. Ó bondosos Santos Reis, ajudai-nos, amparai-nos, protegei-nos e iluminai-nos! Derramai vossas bênçãos sobre nossas humildes famílias colocando-nos debaixo de vossa proteção, da Virgem Maria, a Senhora da Glória, e São José. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Menino do Presépio, seja sempre adorado e seguido por todos. Amém!”


Reis Magos e pastores: a santa harmonia social aos pés do Menino Deus
      Os medievais tinham uma devoção encantada pelos Reis Magos. Essa devoção tem seu fundamento nos Evangelhos, mas eles a desenvolveram com uma força que chega até nossos dias.
     Quis a Providência que o Menino Jesus recebesse a visita de três sábios — que segundo uma venerável tradição eram também reis — e alguns pastores.
     Precisamente os dois extremos da escala humana dos valores. Pois o rei está de direito no ápice do prestígio social, da autoridade política e do poder econômico, e o sábio é a mais alta expressão da capacidade intelectual.
     Na escala dos valores o pastor se encontra, em matéria de prestígio, poder e ciência, no grau mínimo, no rés-do-chão.
     Ora, a graça divina, que chamou ao presépio os Reis Magos do fundo de seus longínquos países, chamou também os pastores do fundo de sua ignorância.
     A graça nada faz de errado ou incompleto. Se ela os chamou e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também como apresentar-se ante o Filho de Deus.
     E como se apresentaram eles? Bem caracteristicamente como eram.
     Os pastores lá foram levando seu gado, sem passar antes por Belém para uma “toilette” que disfarçasse sua condição humilde.
     Os Magos se apresentaram com seus tesouros — ouro, incenso e mirra — sem procurar ocultar sua grandeza que destoava do ambiente supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante.
     A piedade cristã, expressa numa iconografia abundantíssima, entendeu durante séculos, e ainda entende, que os Reis Magos se dirigiram para a gruta com todas as suas insígnias.
     Quer isto dizer que ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces nem atenuações, pois há lugar para todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, sábios e ignorantes.
     É questão apenas, para cada qual, de conhecer-se, para saber onde se pôr junto de Jesus.

Excertos de artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Catolicismo, dezembro/1955

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