terça-feira, 10 de abril de 2018

Santa Teresa de Jesus dos Andes, Carmelita Descalça - 12 de abril

Padroeira da Juventude da América Latina
Alma delicada sem fraqueza e forte sem brutalidade, considerada a Santa Teresinha da América Latina

     Em março de 1993, João Paulo II elevou à honra dos altares a carmelita descalça mais jovem a receber da Igreja o reconhecimento de sua santidade e aquela que viveu menos tempo na vida carmelitana: morreu onze meses depois de ter entrado no Convento do Espírito Santo das Carmelitas Descalças, em Rinconada de Los Andes, Chile.  
Juanita aos 18 meses
    Juanita Fernandez Solar, ou Juana Enriqueta Josefina dos Sagrados Corações (seu nome de Batismo), nasceu a 13 de julho de 1900 em Santiago do Chile.
     Seus pais, Miguel Fernández e Lucia Solar, três irmãos e duas irmãs, avô materno, tios, tias e primos: no seio desta família passou sua infância. A família gozava de muito boa posição econômica e conservava fielmente a fé cristã, vivendo-a com sinceridade e constância.
     Desde cedo, sempre gostou de ouvir falar de Deus e sua terna devoção à Santíssima Virgem levou-a, aos sete anos de idade, a fazer a promessa de rezar diariamente e durante toda a vida o Santo Rosário: promessa fielmente cumprida até o dia de sua morte (12 de abril de 1920)!
     Até 1918, recebeu esmerada formação no Colégio do Sagrado Coração, quer como externa, quer posteriormente como interna.
     Juanita era notável por sua preocupação pelos anciãos e necessitados chegando certa ocasião a rifar seu relógio para socorrer um menino pobre. Suas empregadas, quer na cidade, quer na fazenda da família no interior do Chile, eram tratadas com carinho, delas cuidava pessoalmente quando enfermas.
     No dia 8 de dezembro de 1915, com 15 anos de idade, fez voto de castidade que depois irá renovando periodicamente. Promete "não admitir outro esposo senão a Jesus Cristo". Em abril do ano seguinte, revela à sua irmã Rebeca: "Serei carmelita. Em 8 de dezembro eu me comprometi".
     Como interna no Colégio das Mestras do Sagrado Coração, recebeu em 27 de junho de 1917 o prêmio como melhor aluna de História daquele estabelecimento de ensino. 
     Corria o ano de 1918. A jovem Juanita apresenta três composições literárias que lhe valerão obter o primeiro prêmio da Academia patrocinadora de um concurso. “Sombra e Luz na Idade Moderna - Demolidores e Criadores”, foi o expressivo título da primeira dessas composições.
     Seu conteúdo revela traços admiráveis e pouco conhecidos do pensamento e da personalidade da primeira Santa chilena. Sua visão de conjunto sobre os decisivos acontecimentos históricos dos últimos séculos demonstra até que ponto Santa Teresa dos Andes estava compenetrada da crise que em nossos dias vem destruindo a Civilização Cristã.
     Com 18 anos de idade, a Santa previa o rumo que os acontecimentos atuais iriam tomar e compreendia ao mesmo tempo que a condição de católico fiel supõe grandes batalhas.
     Embora seja verdade que a Santa soube pregar o amor com palavras e exemplos de admirável doçura, é verdade também, entretanto, que soube pregar com magnífica e não menos admirável firmeza o dever da vigilância, da argúcia, da luta aberta e intransigente contra os inimigos da Santa Igreja (*).
Demolidores e Criadores"
     "Há um poder sempre reinante, uma dinastia que não conhece ocaso, uma luz que nunca se extingue, e este poder tem sido sempre combatido, esta dinastia sempre perseguida, esta luz tem estado continuamente circundada de trevas.
     "Eis a eterna história do poder da Igreja; dinastia do Papado; da luz, da verdade. Enquanto tudo passa e fenece a seus pés, a Igreja mantém-se erguida, porque está sustentada pelo poder do alto. Descortinemos o cenário dos povos modernos e veremos que, em cada século, os filhos da Igreja têm que levar em seus lábios o clarim guerreiro.
     "Essa luta não terminará porque é eterno o antagonismo entre a sombra e a luz. Enquanto os filhos da sombra demolem, os filhos da luz regeneram. Daí o título que adotei: Demolidores e Criadores.
Lutero brada contra a autoridade da Igreja
     "Que sucede no século XVI? Os países da Europa se abrasam no fogo de uma guerra fratricida. Na Alemanha, um astro sinistro se interpõe entre as almas e o sol da verdade. Lutero e seus sequazes dão o brado de guerra, o alvo de seus ataques é a autoridade da Igreja... Qual o fruto dessa rebelião? A destruição da comunhão de ideias. As nações se afogam no sangue, as almas se veem envolvidas nas trevas do erro, e a heresia, como rio que transborda, arrasta as massas populares, a nobreza, os tronos e até os ministros do altar. Portanto, os canais através dos quais Deus derrama as graças sobre as almas estão envenenados!
Santo Inácio se levanta como um guerreiro
     "Mas, será possível que o mundo pereça? Não. Um novo astro surge no horizonte: é o ferido de Pamplona, Inácio de Loiola, que cai como soldado de um rei terreno e se levanta como guerreiro do Rei do Céu. Vede-o alistar uma companhia que não manejará o canhão, nem empunhará a espada. Quereis conhecer suas armas? O crucifixo! Sua divisa? A maior glória divina! Seus soldados se espalharão por toda parte e, portadores da luz da verdade, deixarão após si um rastro luminoso; luz espargem eles na Europa, na controvérsia, na pregação, no ensino, luz espargem nas Índias com Francisco Xavier que regenera nas águas do Batismo milhões de almas; luz espargem os soldados da nova milícia em todos os lugares onde passam.
Jansênio lança gelo e sombra
     "Passemos a página do século XVI e veremos no século seguinte o mesmo espetáculo de sombra e luz de demolidores e criadores.
     "No século XVII vemos desta­car-se entre as sombras uma figura de aspecto rígido e severo: Jansênio que lança o gelo e a sombra por onde passa. a chama do amor vacila e acaba por se extinguir com seu brado ímpio: 'Cristo não morreu por todos!' Já não apresenta o Crucifixo com os braços abertos para receber a todos sem exceção, mas sim com os braços entreabertos para receber a uns quantos e rechaçar aos demais...
     "Fugi! Fugi!... clamam os demolidores do século XVII e as almas aterradas fogem... regelam-se e se perdem!
Um sol esplendoroso e vivificante se levanta
     "Deus estava ferido no mais delicado de seu amor... o Verbo pronuncia uma vez mais a palavra criadora que fará brilhar a luz no meio das trevas: em Paray-Le-Monial se levanta um sol esplendoroso e vivificante. Jesus Cristo mostra a uma humilde visitandina seu Coração aberto, abrasado em chamas de amor, queixa-se do esquecimento dos homens e os chama a todos com insistência.
     "A legião jansenista brada: Fugi! Fugi!... A voz de Paray-Le-Monial clama: Vinde! Vinde!... A bandeira negra do terror cederá diante do formoso estandarte do amor. Será tudo? Não. Ali está o grande apóstolo da caridade, São Vicente de Paula que, a imitação do Mestre divino, chama o pobre, o doente, o menino. Para todos há guarida em seu coração. Sua bela legião de Filhas da Caridade arranca do inferno milhares de almas no instante supremo. O amor desterrado reanima as almas, a luz tira os espíritos das sombras. O Coração divino de Jesus e o coração deificado de São Vicente de Paula, falam do amor, do amor infinito um e da compaixão até o heroísmo outro.
Os iluministas, novos demolidores
     "A luta não terminou: o inimigo acossa sempre a Igreja. A tempestade é mais terrível que nunca no século XVIII. Os corifeus da maldade, Voltaire e Rous­seau se mostram, o primeiro com o sorriso burlesco nos lábios e a blasfêmia na pena, o segundo com o sofisma e a confusão nas ideias, e ambos com a corrupção no coração. Os pretensos filósofos querem explicar tudo racionalmente e proclamam diante do mundo que não há Deus, arrancam Cristo do coração de nobres e plebeus, e ainda se atrevem a arrancá-lo do coração do menino. Detende-vos, infames! Está cheia vossa medida, esse santuário de inocência não pode ser transpassado, esses meninos pertencem a Jesus Cristo! Um apóstolo se levanta em nome do Deus da infância: João Batista La Salle, funda as Escolas Cristãs, colocando no coração dos meninos desvalidos a chama da Fé que se extingue por todos os lados.
A Revolução Francesa: obra de ímpia demolição
     "Guerra ao Papa! É o brado da falange mortífera, e em seu frenético entusiasmo diz que já não haverá quem suceda ao mártir da impiedade, a Pio VI. Mas, não bradeis tão alto, Deus disse que as portas do inferno não prevalecerão, e se rirá de vossos desígnios. Vede sentado e estabelecido no trono um novo Papa...
As sombras cobrem novamente o mundo
     "Ó Igreja, teu poder jamais será destruído! As trevas cobriram a face do universo na aurora do Tempo e ao Fiat Lux fogem vencidas. Mais tarde, as sombras da idolatria cobriram o mundo antigo, veio o Verbo e dissipou as trevas, porque o Verbo era a Luz.
     Hoje as sombras cobrem novamente o orbe cristão; mas ali está a palavra de Cristo, Verdade Eterna: 'Aquele que Me segue e cumpre minha palavra não anda nas trevas'.
     "Ó palavra de vida! A Ti amor eterno, a Ti eterna fidelidade!"
*     
Sua vida monástica, de 7 de maio de 1919 até sua morte, foi o último degrau de sua ascensão ao cume da santidade: onze meses foram suficientes para consumar sua vida totalmente transformada em Cristo.
     Na Sexta-feira Santa de 1920, após o Ofício que relembra a morte do Divino Salvador, a Superiora percebeu que Irmã Teresa estava pálida e com dificuldade de seguir as cerimônias. Quando lhe apalpou a fronte, viu que estava ardendo em febre, e mandou-a recolher-se ao leito. Dele não se levantaria mais. Nesse período, fez a profissão religiosa e recebeu os últimos sacramentos.
     Ao entardecer de 12 de abril de 1920, contando vinte anos incompletos e apenas 11 meses no Carmelo, fechou os olhos para esta vida, indo encontrar Aquele que pouco antes ela chamara “Meu Esposo”. Longe dali, em Santiago, nesta mesma hora, a Irmã Mercedes do Coração de Maria teve uma visão: “Subitamente (…) me encontrei na cela de uma carmelita moribunda; vi que era bem jovem e, apesar da palidez de seu rosto, tudo nela refletia uma luz suavíssima e celestial. Ao lado esquerdo da sua cama havia um anjo com um dardo que lhe trespassava o coração, e logo ouvi: morre de amor”.
     Foi canonizada no dia 21 de março de 1993. Nos processos de beatificação e canonização, três dos seus principais confessores sustentaram sob juramento que ela jamais cometera pecado mortal nem venial deliberado.
     Os seus restos são venerados no Santuário de Auco-Rinconada dos Andes por milhares de peregrinos que buscam e encontram nela a consolação, a luz, e o caminho reto para Deus.
     Santa Teresa de Jesus nos Andes é a primeira Santa chilena, a primeira Santa carmelita descalça de além-fronteiras da Europa e a quarta Santa Teresa do Carmelo, após Santa Teresa d’ Ávila, Santa Teresa de Florença e Santa Teresa de Lisieux.
     Festa litúrgica: 13 de julho. 

Obras de Referência:
1. Um lírio del Carmelo: Sor Teresa de Jésus -Juanita Fernandez S. -1900-1920, Imprenta de San José, Santiago do Chile, 1929.
2. Santa Teresa de Los Andes, Deus, alegria infinita, Edições Loyola, São Paulo, 1993.
3. Santa Teresinha da América Latina - Pensamentos, Edições Loyola, São Paulo, 1993.

(*) Os intertítulos nos excertos da composi­ção da Santa são nossos.




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